segunda-feira, 25 de junho de 2012

Xadrez ajuda detentos a 'se libertarem' de prisão no ES


'Não quero levar o xeque-mate como levei lá fora',
diz Rodrigo da Silva. (Foto: Juirana Nobres/G1 )
Condenado a 30 anos de prisão por assaltos à mão armada, o detento Rodrigo da Silva de 27 anos, está aprendendo a repensar e a raciocinar com a ajuda de peças e um tabuleiro de xadrez, dentro das grandes da Penitenciária de Segurança Máxima 1, em Viana, na Grande Vitória. Ele faz parte do ‘Xadrez que Liberta’, melhor projeto socioesportivo do mundo, eleito no último mês no Canadá. De acordo com a secretaria Estadual de Justiça (Sejus), a atividade é aplicada para mais de 3.500 detentos em 32 unidades prisionais do Espírito Santo .
“Depois que comecei jogar percebi que antes de tomar uma decisão na minha vida tenho que pensar direito, para saber se a minha decisão está correta. O xadrez é isso, ajuda a gente a pensar antes de tomar qualquer atitude ou jogar qualquer pedra errada. Por causa das atitudes precipitadas é que nós viemos parar neste lugar. Nesse jogo eu não quero perder, não quero levar o xeque-mate como levei lá fora”, explicou o Rodrigo.

Mudança de vida

Experiente com trabalhos na construção civil, Cristiano Assis, de 34 anos, quer mudar de vida. Atrás das grades há sete anos, e há três dedicados ao xadrez, o interno pensa em ser professor de matemática ou física. Assis foi condenado por tráfico de drogas e prefere não falar muita em sua vida, que segundo ele, ficou no passado.
“As jogadas do xadrez são parecidas com as ‘jogadas’ e decisões que tomamos na nossa vida. Às vezes nós temos que desviar de vários obstáculos para alcançar alguma coisa. No jogo também é assim, vence quem chegar lá em cima. No tabuleiro, um peão pode se tornar uma peça mais forte, de acordo com as jogadas que fizer e dependendo da pedra que mover. Na vida real também é assim. Podemos ser o que nós quisermos, professor, doutor, executivo, basta correr atrás, ter força de vontade e trabalhar”, relatou.

Exemplo para o mundo

‘Xadrez que Liberta’, concorreu com 140 projetos de diferentes modalidades esportivas de diversos países e ganhou o prêmio Spirit of Sports. A premiação é concedida pela Sportaccord, órgão que reúne federações esportivas internacionais como a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o Comitê Olímpico Internacional (COI).
No último dia 8, representantes da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX), apresentaram o projeto a subsecretária Geral e Diretora Executiva da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres, Michelle Bachelet, na sede da organização, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O objetivo de Bachelet é levar a iniciativa capixaba para todos os presídios femininos do mundo.

Filhos

O crime também afastou da família o trocador de ônibus e operador de máquinas Elson Xavier. Ele tem 34 anos e cinco filhos. Para se distrair, o detento disputa partidas de xadrez com os companheiros de cela, mas sua maior vontade era estar em casa.
“Fiz coisas erradas e por isso estou aqui. Tenho consciência que tenho a oportunidade de mudar. Todas às vezes, que espero meu companheiro mover a peça, reflito, penso e me perco em meus pensamentos. Se eu estivesse só lá no outro ‘xadrez’, lá na cela, meus pensamentos poderiam não ser tão positivos. Esse jogo tem vários objetivos e preenche a nossa mente”, disse.

O projeto

'Xadrez que Liberta' é uma parceria entre a Secretaria Estadual de Justiça e a Confederação Brasileira de Xadrez, e existe desde 2008. O vice-presidente da confederação, Charles Moura Netto, que participou da implementação no Espírito Santo, disse que objetivo das ações vão muito além dos movimentos no tabuleiro.
"Trabalhamos o xadrez não como fim, mas como meio de reflexão, de atitude, de ética, de moralidade. Isso não quer dizer que torna o indivíduo mais inteligente, na verdade só aguça valores que nós já temos e que são natos. Isso pode se mais intenso para essas pessoas que estão privados da liberdade", explica Neto.
O vice-presidente da confederação disse ainda que o xadrez é um esporte diferente por que trabalha com o intelectual, a possibilidade de resolver problemas, autonomia e tomada de decisões e pode ser realizado em qualquer espaço físico.
Sejus disse que a atividade é aplicada para mais de 3.500 detentos em 32 unidades prisionais do estado. (Foto: Divulgação/Sejus)

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