quarta-feira, 30 de março de 2011

Chamada de ‘nerd’ pelas amigas, menina de 12 anos brilha no xadrez


Filha do enxadrista número 1 do Brasil, Katherine Vescovi dribla provocações, perde as contas dos troféus que já tem e vai disputar seu terceiro Mundial

“Todo mundo me chama de nerd”, reclama Katherine Vescovi. Aos 12 anos, ela diz ser uma menina normal, não muito diferente das outras crianças de seu colégio em São Paulo. Seu currículo, no entanto, diz um pouco mais. Campeã brasileira e sul-americana, ela aparece como uma das maiores esperanças de um esporte praticamente esquecido no Brasil: o xadrez.
Katherine tem, em casa, a maior das motivações. Filha de Giovanni Vescovi, o melhor enxadrista brasileiro da atualidade, a menina começou desde cedo a brincar com as peças do tabuleiro. Aos 8 anos, quis levar aquilo mais a sério. Passou a treinar ainda mais e a competir para valer, em torneios da sua categoria. Hoje, tem por trás o patrocínio de uma grande multinacional do setor de eletrônicos e não faz ideia de quantos troféus tem em casa.
- O xadrez é muito legal, tem um ambiente muito bom. Você viaja muito, encontra outras crianças e sempre brinca com elas depois das competições. Consegue interagir bem – diz a menina.
No exterior, participou de competições na Argentina, na Bolívia, na Grécia e na Turquia, país que gostou mais de conhecer. Já participou de dois Mundiais e vai para o terceiro em novembro deste ano, em Caldas Novas, Goiás. Sua meta, no entanto, é participar das Olimpíadas do Xadrez, no ano que vem, em Istambul.
- É o que eu quero mesmo. Não sei explicar o por que. Também seria uma das únicas vezes que estariam pai e filha no torneio – disse, explicando que, na competição, não há diferenciação entre as categorias.
Katherine lembra de uma vez, não sabe ao certo onde, em que quase precisou enfrentar o pai durante uma competição. “Ia ser estranho”, admite. Giovanni, no entanto, ressalta que nunca fez pressão para que a filha seguisse o seu caminho.
- Eu nunca pressionei a Katherine a jogar, mas sempre disse que, se ela quisesse, precisava levar a sério. Quando ela resolveu que era isso o que queria, contratamos um professor, porque não daria para eu mesmo ensiná-la. E ela seguiu em frente – afirmou.
A menina também tem outros sonhos. Quer estudar medicina, nos EUA. E acredita que o xadrez poderá ajudá-la nisso também.

Katherine e o pai, Giovanni Vescovi: lições em casa (Foto: João Gabriel Rodrigues / Globoesporte.com)
 
- O xadrez também dá muitas oportunidades na vida. Lá fora, ajuda bastante nas faculdades – garante.
Seu maior desejo, no entanto, é ser a primeira mulher nascida no Brasil a se tornar uma Grande Mestre Internacional, maior título concedido dentro do esporte. No país, apenas 11 enxadristas têm a honra no currículo.
- Eu vou ser a primeira – garante, pouco antes de perguntar ao seu pai quantos anos ele tinha quando alcançou a conquista.
Na escola, a facilidade em fazer contas costuma gerar problemas a Katherine. Mais rápida de sua turma, recebe broncas dos professores por estar desenhando ou com o olhar perdido quando os outros alunos fazem a tarefa. Alguns outros pegam no seu pé pelas faltas excessivas quando está em viagem para disputar algum torneio.
- Mas a diretora já avisou que não tem problema. Seria injusto se eu fosse reprovada por faltas.
Inquieta, Katherine tem o sorriso largo e a conversa fácil. Giovanni afirma que a falta de concertação é justamente o maior problema da filha. Diz que seu outro pupilo, também Giovanni, de 8 anos, é mais dedicado. Para Katherine, no entanto, o detalhe que precisa corrigir é outro. 
- Preciso perder meu medo. É a pior coisa que tem. Todo mundo acaba dizendo que eu tenho medo de tal adversário e eu acabo tendo mesmo. Preciso perder esse medo.

Por João Gabriel Rodrigues

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